EFEMÉRIDES DO CALANGO

Já viu esse aqui?

19 fevereiro, 2008

[quadrinhos] Carnaval de quadrinhos das quartas #9 - Contadores de histórias

Mais uma edição do CQQ. Desta vez, hospedado no Cibertron.
O tema desta edição traz a possibilidade de falarmos sobre grandes autores de quadrinhos, grande contadores de histórias, como Alan Moore, Jim Starlin, Frank Miller, Stan Lee, Garth Ennis, etc.
A Toca do Calango é fã incondicional de Warren Ellis, como os leitores já devem saber, considerando o número de postagens dedicadas às obras desse grande autor.
Na opinião desse Calango, se Alan Moore é o grande deus dos quadrinhos, Warren Ellis é, com certeza, um outro deus muito próximo. Quase um sucessor de Moore. (Calma! Calma! Eu sei que minha opinião é controversa! Mas leiam sobre Warren Ellis, leiam sua obra e depois comentem!)

Warren Ellis
Warren Girade Ellis (16 de fevereiro de 1968) é um escritor britânico de histórias em quadrinhos e graphic novels, mais conhecido por sua sagacidade cruel e seus comentários socioculturais tanto na internet quanto em suas obras. Ele mora em Southend-on-Sea, Inglaterra.
Ele pertence à segunda leva de autores britânicos que invadiu a popular indústria norte-americana de quadrinhos, idiossincrático e inovador. Publicou seu primeiro trabalho na revista inglesa Deadline #24, em 1990. No ano seguinte colaborou nas revistas Doctor Who Magazine, Speakeasy, Judge Dredd Magazine e Blast! Magazine.
A partir de 1994 começou a escrever histórias para a Marvel Comics, DC Comics, Image, Caliber e Dark Horse. Em 1997, criou uma das suas séries mais populares, Transmetropolitan, para o selo Helix/DC. Em 1999, criou mais duas séries superelogiadas: The Authority e Planetary para a WildStorm. A partir de 2000, começou a publicar várias mini-séries pela editora independente Avatar Press. Para uma pequena lista de seus trabalhos cliquem aqui.
O escritor britânico de HQ Warren Ellis é um homem de extremos. Toda vez que ele se dispõe a criar uma nova série, ou mesmo assume um personagem tradicional da Marvel ou DC, você pode ter certeza de uma coisa: o homem não costuma deixar pedra sobre pedra, sempre conduzindo os personagens a novos patamares antes inconcebíveis ou mesmo disparando conceitos totalmente absurdos e engenhosos a cada quadrinho. Suas duas obras mais significativas - e qualquer fã de seu trabalho deve concordar com isso - são duas séries de autoria própria para a Wildstorm, a editora do desenhista Jim Lee, outrora parte da Image Comics, hoje uma subsidiária da DC.
Durante a sua temporada de exclusividade na DC o autor escreveu Global Frequency, Mek, Red and Tokio Storm Warning, assim como dos números do terceiro arco de histórias de Planetary e a bem sucedida Planetary/Batman: Night on Earth.

Para se ter uma boa idéia da personalidade deste britânico louco, vejam o que ele falou sobre o fim desse contrato com a DC:

"Isso não é o negócio normal dos quadrinhos mainstream de fodam-se esses caras, eu vou pro outro lado da rua trabalhar com os outros caras até eu encher o saco deles e voltar pra DC. Essa tem sido a dança padrão nos quadrinhos comerciais por trinta anos, pessoas variando entre DC e Marvel como se fossem os dois únicos jogadores do mundo. DC é a única editora de Nova York em que estou interessado em trabalhar, porque são os únicos apoiando trabalho creator-owned original [ou seja, de propriedade do autor]. E eu continuarei a trabalhar com eles até eles cansarem de mim."
(...)
"Tem um monte de outras coisas que quero tentar mas não posso fazer na DC. Eu gostaria de fazer uma série de quadrinhos online. Eu gostaria de trabalhar na Europa, e criar quadrinhos especificamente para as livrarias. Tem um trabalho de antologia que me ofereceram mas não pude fazer nesses últimos dois anos. Eu quero terminar o livro, e pensar no próximo, o que significa menos trabalhos com quadrinhos, ou pelo menos menos trabalho"

E sobre esse livro, registre-se que foi lançado em 2007 pela editora William Morrow e chama-se Crooked Little Vein. A história mostra o detetive Michael McGill, que é contratado por um ajudante corrupto do Presidente para uma investigação. Logo, McGill se vê envolvido num plano sinistro e, pior, fazendo parte dele. O detetive tem a ajuda de Trix, uma estudante que é sua assistente e lhe dá coragem para levar adiante sua investigação. Mas não recebeu boa crítica!

Agora, melhor que falar sobre um contador de histórias é falar de suas histórias.


Com Planetary e Authority, Warren Ellis atingiu o ápice de sua criatividade e perigou ficar ombro a ombro com Alan Moore. Nessas séries, Ellis liberou-se criativamente de tal forma, que até hoje a primeira, alguns anos após o cancelamento, tropeça em consecutivos relançamentos em busca da antiga glória, sob a batuta de escritores menos capazes. E a segunda, Planetary, planejada para um determinado número de edições (como Preacher e Sandman), até hoje não foi concluída, pois Ellis só lança no máximo quatro números por ano, às vezes menos. Contando com a mesma equipe criativa desde o primeiro número (Ellis e John "Surpreendentes X-Men" Cassaday nos desenhos), cada edição de Planetary é um evento sofregamente aguardado pelos fãs ao redor do mundo.
Se fosse para descrever em um clichê de apenas três palavras, Planetary seria “um poço de referências”, como aliás, foi posto na orelha do seu primeiro encadernado lançado no Brasil pela Devir Editora, "Mundo Estranho". Pense numa referência da cultura pop. Qualquer uma. Filmes de monstros japoneses? Os quadrinhos da Vertigo? Literatura pulp dos anos 30? Filmes de gangster chineses estilo John Woo (pré-Hollywood)? Os heróis da era de ouro da Marvel? Filmes americanos de ficção científica dos anos 50? Acredite, tudo isso e muito mais entra no liquidificador de referências que Planetary oferece ao leitor.

A cada edição, a equipe formada pelos invocados e enigmáticos Elijah Snow, Jakita Wagner e O Baterista, Os Arqueólogos do Impossível, como também são chamados, mergulham numa missão para desvendar a história secreta do século XX, sempre relacionada com alguma dessas referências. E o que poderia ficar só na homenagem babona, toma, muitas vezes, trejeitos de tratados - permeados pela visão crítica do escritor.
Na história da edição número 7, "Na Inglaterra durante o verão", o autor desanca sem dó nem piedade os personagens da Vertigo, o proverbial selo de quadrinhos adultos da DC Comics que ele mesmo ajudou a fazer a fama, com sua série Transmetropolitan e escrevendo edições de Hellblazer, entre outros trabalhos. Nela, vemos o trio de protagonistas indo ao enterro de um genérico de John Constantine, ao qual também comparecem versões de diversos outros personagens da Vertigo. "Eu não sei, talvez sejam os dez anos entre o agora e a cultura que os produziu, mas... eles não são totalmente ridículos?", pergunta Elijah Snow, diante dos personagens que nos embalaram nos anos 80 e 90, como o Monstro do Pântano, Homem Animal, Patrulha do Destino e Sandman, entre outros. Cruel, não?
Uma das coisas mais legais de Planetary é que, apesar de cada história se sustentar sozinha, independente de você ter lido ou não a edição anterior, existe toda uma sub-trama de conspiração que se desenvolve - e se complica - com absoluta maestria a cada missão. Mas o grande barato de Planetary - além dos desenhos majestosos de Cassaday, do desenvolvimento perfeito dos personagens, da conspiração (ênfase na "piração"), do ritmo de filme de espionagem e diálogos fantásticos – é mesmo o grande número de conceitos a primeira vista disparatados, mas absolutamente criativos e viajantes, que Warren Ellis espalha com a mão de um chef de cozinha ao longo de toda a série.


E se em Planetary Ellis nos concede sua magnífica reinvenção da ficção científica psicodélica, em Authority ele faz o mesmo com os quadrinhos de equipe de super-heróis, com resultados (quase) igualmente retumbantes. Formado a partir das cinzas de uma equipe vagabunda da Image dos anos 90, o Stormwatch, o Authority é formado por um punhado de heróis super poderosos, bad ass style, que resolveram tomar as rédeas do destino do mundo nas mãos.

Ah, tem um ditador oriental maluco incitando o terrorismo e enviando super assassinos para atuar ao redor do mundo? No problems. O Authority vai lá, invade o país, desce o sarrafo nele e resolve a questão de forma nada sutil. Tudo bem que alguns milhares de pessoas morreram no processo, mas "quantas pessoas teriam morrido se não estivéssemos aqui? Não é uma grande resposta, eu sei, mas é a melhor. Nós salvamos mais pessoas do que matamos. Isso basta para mim", justifica Jack Hawksmoor, o Rei das Cidades, um dos integrantes do grupo.

Como em Planetary, cada personagem é um enigma em si e um conceito completamente inovador. Esse Jack, por exemplo, é chamado de Rei das Cidades por que é simplesmente capaz de conversar com elas. Através dos seus pés, sempre descalços, ele diz estar "fisicamente ligado ao sistema nervoso das cidades". Se ele encostasse a mão no seu prédio, este contaria a ele cada história que presenciou.
A líder do grupo, Jenny Sparks, o Espírito do Século XX, é "um mecanismo de defesa com cem anos de duração", como ela mesma se definiu, e, compreensivelmente, domina a eletricidade. Na última edição publicada em 1999, ela morreu (seu epitáfio, inscrito na lápide: "Que se foda! Eu quero um mundo melhor!"), para renascer como o bebê Jenny Quantum, de poderes ainda desconhecidos.

Meia Noite e Apolo são genéricos de Batman e Superman, respectivamente. O detalhe sacana é que ambos são homossexuais assumidos e mantêm um tórrido affair, o que inclusive gerou problemas para os autores por conta da censura interna da DC Comics, que não gostou muito de ver seus dois maiores ícones retratados como um casal gay - e dizem as más línguas, foi uma das razões do cancelamento da revista.

A base de atuação do grupo, chamada A Balsa, é uma alternave mega gigantesca, com nada menos que 80 quilômetros de largura por 56 de altura, que se move pelas veias de Deus e pode se teletransportar instantaneamente para qualquer ponto do globo terrestre, bem como pode criar portas para fazer o mesmo com seus tripulantes, entre outros feitos estupefacientes.
Sempre combatendo ameaças em escala planetária, os heróis perversos do Authority ora combatem invasões de naves de uma Terra interdimensional, ora dão um cacete em mercenários uniformizados, genéricos dos Vingadores da Marvel.
Planetary concluirá na edição #27, que aguardo há cerca de dois anos!!!!

Outra obra-prima é Ocean, um sci-fi policial em 06 edições que conta a história da descoberta de artefatos alienígenas enterrados sob o gelo de Europa, uma das luas de Júpiter. O personagem principal, Nathan Kane, desenhado com a cara de Samuel L. Jackson, é um inspetor de armamentos da ONU enviado para missão secreta em uma estação especial que orbita Europa. Lá, descobre que cientistas encontraram caixões de uma antiga civilização sobre a superfí­cie congelada do satélite. Dentro desses artefatos estão criaturas angelicais e o que pode ser uma arma de destruição em massa. Ao mesmo tempo, a megacorporação Doors (uma sátira à Microsoft) também tem seus interesses na descoberta.

Tão boa é a obra que o produtor Gianni Nunnari anunciou em 2007 que quer levar para o cinema a HQ Ocean.

Embora Nunnari seja citado como tendo dito “estamos trabalhando com Warren Ellis na adaptação de Ocean“, o próprio Ellis comentou em seu blog que os direitos da HQ - dele e de Sprouse (artista gráfico) - nunca foram vendidos para o cinema.
Seja como for, vimos pela sinopse que Ocean já saiu empacotada para o cinema.

Ellis desmentiu o anúncio, mas o fato de Nunnari ter demonstrado seu interesse deve estar resultando em negociações.


Por último, gostaria de citar a trilogia pesadelo Supremo / Segredo Supremo / Extinção Suprema, em que Warren Ellis leva o Universo Ultimate da Marvel a limites nunca vistos. Tanto que inovações trazidas por ele naquela série acabaram sendo incorporadas aos poucos ao Universo Marvel tradicional. Sua visão muito particular de Galactus e seu arauto mais prateado pode ser claramente vista em QuartetoFantástico e o Surfista Prateado (cinema).

Outra HQ que tem claras influências dessa trilogia é Guerra Civil.


Bom, é o que tinha a apresentar. Outros bons artigos odem ser lidos nos parceiros do CQQ:
Fontes:

4 comentários:

  1. Anônimo1:57 PM

    Fantástico Calango, Warren Ellis. Essas HQs que você cita são mesmo muito boas...

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  2. Muito Bom !!!
    Este cara é realmente Fantástico !

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  3. Comprei Night on earth. Ver o Warren Ellis escrevendo o Batman de Frank Miller é sensacional! Tem um review dessa HQ no meu blog, depois da uma olhada.

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  4. Anônimo6:22 PM

    Ellis é o cão! Queria saber o que ele bebe antes de escrever essas histórias. Pesadelo Supremo e Planetary são duca! E Authority realmente presta a fase sob sua batuta.

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