EFEMÉRIDES DO CALANGO

Já viu esse aqui?

02 junho, 2010

[explicação] O final de Lost

Acho que finalmente entendi a proposta de Lost. Sim, a proposta, o objetivo da série, coisa que faz aquele final mais palatável.

Lost não é uma aventura. Lost não é ficção científica. Lost não é um combate entre o bem e o mal. Lost é sobre um grupo de pessoas que tiveram suas vidas entrelaçadas de maneira única a ponto de essas relações ultrapassarem a própria vida como a conhecemos.

A ilha é um local fantástico, lar de dois seres poderosos, que serviu apenas de pano de fundo para as relações interpessoais do grupo de Jack, Locke, Kate, Sawyer, Jin, Sun, Desmond, Sayid e tantos outros que assistimos por seis anos.

Não interessava explicar porque a ilha tinha uma energia própria, porque havia uma estrutura quase extraterrena que impedia essa energia de vazar, porque a ilha viajou por tantos lugares ao longo do tempo. Era simplesmente um local ímpar que por essa característica acabou atraindo toda sorte de pessoas, de viajantes incautos a comissões científicas.

E seus moradores mais antigos, Jacob e seu irmão, eram tão somente homens extraordinários que, por seus poderes, ficaram presos à ilha e, talvez seja plausível, enlouqueceram num jogo milenar de atrair pessoas à sua morada. Novamente, não interessava explicar como feitiços ou capacidades meta-humanas foram desenvolvidos e permitidos a esses dois seres.

A ilha e seus moradores são apenas o liame que permitiu a nós vislumbrar as interações dos personagens principais e sua catarse. A história, então, é sobre um grupo de pessoas infelizes e solitárias que foram obrigadas a viver juntas num ambiente desconhecido e desafiador.

Quando assistimos a um filme como Conan, precisamos saber detalhadamente como o feiticeiro da história adquiriu aqueles poderes? Porque monstros e seres inimagináveis existem ali? Não. A história se basta. Claro que alguns afirmarão que o final é lógico, o herói vence no final, a história ‘fecha’. Mas a diferença, no caso de Lost, é a dificuldade em entender que não era uma aventura, era um texto contemplativo, acerca das vidas dos personagens.

E, por ser uma visão sobre os personagens, e não sobre uma missão relativa à ilha, não precisava ser absolutamente coerente. Afinal, qual a coerência da vida?

Feitas tais considerações, chego ao final, àqueles três fatídicos últimos minutos do capítulo 18 da sexta temporada. Aquele final não é religioso como algumas pessoas afirmam. Mas é difícil de entender antes de digerir as idéias que expus acima. Eu mesmo levei um bom tempo até entender. E só entendi por conta de uma ‘tuitada’ do Cadu Simões: Pra quem ainda ñ entendeu o final de Lost, leia o livro Ubik, de Philip K. Dick, e tudo fará sentido.

Philip K. Dick é um autor de ficção científica que já tinha lido. Algumas de suas obras foram convertidas ao cinema com grande sucesso - Blade Runner, Minority Report, Total Recall etc. Contudo, nunca tinha lido a novela referida pelo Cadu, uma história bem estranha com um fim sem cara de fim (bem Lost! :P), mas que me deu o estalo necessário para entender Lost. Aliás, quem queira ler Ubik, clique aqui


Aquela cena final indica apenas que os personagens passaram por extremos tais durante suas temporadas na ilha que seus espíritos, almas, élans, como queiram chamar ficaram conectados a ponto de encontrarem-se após a morte. Ou seja, as almas dos personagens ficaram dependentes umas das outras em busca de saber o que aconteceria se não tivessem caído na ilha. E, por isso, formularam aquela ‘realidade’ em busca de tal resposta. Afinal, o que um espírito faz enquanto não reencarna ou chega ao seu repouso definitivo? Fica pensando na ‘vida’, oras.

E porque tinham a mesma aparência da época da ilha se morreram em momentos distintos? Eram visões idealizadas daquelas almas. A conexão ocorrida foi entre um Jack e uma Kate jovens, por exemplo. Mesmo que Kate tenha vivido muitos anos após sua saída da ilha com o avião da Ajira, sua conexão com Jack era com aquela aparência jovem.

Porque Desmond (na ilha ou na outra realidade) sabia tanto sobre os dois mundos? Era o único que transitava mentalmente entre épocas. Porque não poderia ter vislumbrado aquela ‘vida’ pós-morte e vice-versa?

Porque Christian Shepard encontrou-se com Jack, mesmo não tendo vivido na ilha? Porque tinha uma pendência efetiva com o filho que era anterior à ilha.

A afirmação do pai de Jack de que o período passado na ilha foi o mais importante da vida deles faz todo o sentido. Afinal, apesar de alguns serem aparentemente bem sucedidos, todos efetivamente tinham problemas em suas vidas que foram expurgados durante sua convivência forçada na ilha.

Acho que abrir a mente para o fato da história ser sobre vidas e não sobre a ilha ou sobre Jacob e seu irmão resolve a questão. Agora estou pronto para encontrar a luz, também.


2 comentários:

  1. Continuo achando que foi preguiça mesmo e que para criar mistérios sem explicar até a minha sobrinha de 2 anos cria.

    E a rolha que segura a ilha foi demais para mim. No final tudo se reduziu a uma pia com o ralo fechado.

    ResponderExcluir
  2. Obrigada por pensar e dividir com a gente! Também estou pronta para a luz...que venha!

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Imprima o post!