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19 novembro, 2008

[ciência] Transplante de medula óssea pode ter erradicado o vírus da AIDS em soropositivo

A história foi divulgada pela primeira vez em Março, num congresso sobre retrovírus e doenças oportunistas em Boston. Gero Hütter e os seus colegas da Universidade Médica de Berlim apresentaram o espantoso caso de um doente com HIV e leucemia que, ao que tudo indicava, estava livre do vírus da AIDS há 145 dias. Porém, o resultado foi recebido com tanta prudência - falar em "cura" da AIDS tornou-se hoje quase uma blasfémia, tal é o número de fracassos e desilusões da investigação científica - que o anúncio passou despercebido. Mas, há uns dias, o Wall Street Journal (WSJ) voltou à carga.
A história continua a ser espantosa - é aliás mais incrível ainda hoje, volvidos quase dois anos desde o início do tratamento.
Um norte-americano de 42 anos, residente em Berlim e infectado pelo HIV, tinha desenvolvido uma leucemia aguda. Um primeiro tratamento com quimioterapia falhara. A segunda opção era um transplante de medula óssea. Hütter não era um especialista da sida, mas sabia que existe uma mutação genética, conhecida desde 1996, que torna as pessoas que a herdaram dos dois progenitores imunes a quase todas as estirpes de HIV. A mutação verifica-se no gene que comanda o fabrico de uma proteína, a CCR5. Normalmente, a CCR5 encontra-se à superfície das células-alvo do HIV, que a usa para entrar nelas e replicar-se. Mas nos "mutantes", ela desaparece e o vírus fica à porta.
Hütter procurou, entre as amostras de sangue de dadores de medula óssea compatíveis com o doente, uma que fosse mutante de pai e mãe para a CCR5. E encontrou-a, relata ainda o WSJ, na amostra n.º 61 entre 80 possíveis. Uma sorte, visto que apenas um por cento dos europeus são portadores desta mutação (e talvez um pouco mais no Norte da Europa).
O doente foi então irradiado e tratado, de forma a eliminar virtualmente todas as células do seu sistema imunitário, e a sua medicação anti-HIV suspensa. "Os cientistas tencionavam retomar o tratamento quando, a seguir ao transplante, o HIV reaparecesse no sangue", diz o diário. "Mas ele nunca voltou." E 600 dias mais tarde, o homem, a recuperar do transplante, ainda não apresenta qualquer vestígio de HIV no corpo.
Acidente do destino, impossível de repetir, ou potencial via para o desenvolvimento de um tratamento eficaz contra o HIV? Ninguém se pronuncia, embora o Nobel da Medicina David Baltimore, que está a explorar uma abordagem semelhante (mas muito menos perigosa do que um transplante de medula óssea) diga que acha que os resultados dos médicos alemães provam basicamente que é possível.
A ideia de Baltimore é introduzir a mutação CCR5 nas células das pessoas soropositivas para as tornar imunes ao HIV. Mas a promessa das terapias genéticas ainda não se concretizou - e já fez algumas vítimas mortais. "Ainda estamos muito longe", diz de resto Baltimore, citado pelo WSJ, salientando que quer desenvolver um tratamento da AIDS tão fácil de administrar como a vacina da gripe.

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